Caros Amigos,
Como a maioria já saberá, foi hoje promulgada pelo Presidente da República a Lei do Aborto. Sem porquês, sem quaisquer condicionamentos, sejam de natureza jurídico-constitucional sejam de natureza político-social. Foi simplesmente promulgada.
Foi notório o meu (nosso) silêncio, enquanto membro da Comissão Executiva do Norte pela Vida, desde o dia 11 de Fevereiro. Para além da nossa declaração pública na sede, ao final da noite, dirigida a todos na voz do Luis Graça através da comunicação social, não mais demos notícias nem dirigimos uma qualquer palavra de reconhecimento, agradecimento, esperança ou desafio.
Sinceramente, no que me toca, foi assim porque tinha que ser. Sem prejuízo das diligências, já sem grande alcance, que fomos fazendo junto da Assembleia da República e da Presidência da República, mais por adesão aos esforços da extinta Plataforma do que por nossa iniciativa, a verdade é que mantivemos um prudente silêncio (se me permitem a adjectivação). Na realidade, adivinhava-se este dia com os exactos contornos que veio a ter.
O Aborto é mesmo livre, totalmente livre.
Bem, mas é neste dia e nesta hora que se exige uma palavra.
Recordo-me bem daquela fria noite de finais de Novembro, em que alguns de nós se reuniram na Rua Aires Gouveia, em frente ao Hospital de Santo António. Estávamos ali correspondendo a um apelo difundido via e-mail. E já aí começámos por não ser poucos – éramos mais de 50 vozes, cada um com a sua sensibilidade e disponibilidade.
A ordem de trabalhos não estava definida, ou melhor, era a de sempre – a luta pela VIDA!
Se bem se lembram, ainda não estava marcada a data do referendo.
A reunião não foi mais do que dela esperávamos: havia que criar um movimento de cidadãos, que tendencialmente representaria o Norte do país na campanha que se avizinhava; esperava-se que um pequeno grupo de voluntários (auto-designado “comissão executiva”) tratasse de iniciar os “pequenos” detalhes indispensáveis à “empreitada”.
E assim começou todo um trabalho pela Vida em que quase tudo estava por definir: a mensagem, a declaração de princípios, o nome do movimento, o logótipo, os mandatários, o orçamento. E mais: as assinaturas e organização da recolha, a corrida de São Silvestre, a sessão de apresentação, a sede, as iniciativas, deslocações, debates, entrevistas, reacções, assessoria de imprensa, imagem, panfletos, outdoors, material de campanha como bandeiras, t-shirts, gorros, pulseiras, autocolantes, pins, etc, o financiamento (com imensas e delicadas diligências), a formalização do movimento, os contactos com outros movimentos e com figuras públicas que nos pudessem ajudar. Fizeram-se arruadas, caminhadas, passeios de barco, de bicicleta, de autocarro. Jogos de futebol com grandes estrelas. De nós nasceu o mais fantástico movimento de médicos. Estivemos em todos os concelhos do distrito do Porto, e fomos mais longe sempre que nos pediram.
Caros Amigos, nós não falhámos! O Norte pela Vida não falhou!
Perguntarão: mas porquê exaltar todo este trabalho – o nosso trabalho – em defesa da VIDA?
Como sublinhámos na declaração da noite de 11 de Fevereiro, pela voz do Luís, este nosso empenho, trabalho e dedicação, não resulta de um qualquer programa político-partidário. É antes a decorrência lógica e coerente da nossa maneira de ser e de pensar. E é aqui que nós somos diferentes!
O dia 11 de Fevereiro, e agora o dia 10 de Abril, não são o termo do nosso empenho, trabalho e dedicação. Pelo contrário, é agora que temos que demonstrar a nossa coerência e diferença. A VIDA assim o exige, e nós não deixaremos de corresponder.
É assim que peço a todos que se dediquem, de acordo com a disponibilidade e as circunstâncias de cada um, à causa da VIDA.
Como, perguntarão.
Não sei mas tenho sugestões a fazer:
A primeira, como condição sine qua non, é a de que nos esforcemos verdadeira e consequentemente, com a sustentabilidade financeira das associações já existentes (aqui no Porto, o Vida Norte e as Mulheres em Acção, e em Famalicão, o Tudo pela Vida). Não podemos viver tranquilos com a agonia financeira destas associações que são o instrumento essencial para a institucionalização da defesa da VIDA. Recorram a todos os contactos que tiverem e não se conformem!
A segunda sugestão passa necessariamente pelo voluntariado junto dessas instituições. Quantas vezes damos por nós a dedicarmo-nos a causas tão menos importantes? A causa da VIDA, mais do que nunca, precisa de todos!
A terceira, mais complexa, prende-se com a necessidade de fomentarmos no nosso convívio social, profissional, familiar, uma cultura de exigência e de fundamento relativamente às questões essenciais da VIDA. Provavelmente, uma das principais causas do insucesso de 11 de Fevereiro terá residido na nossa demissão em formarmos consciências contrastada com a atitude militante dos nossos adversários.
Tenho mais ideias – todos teremos. Permitam que me fique por estas três.
Como terão percebido, sinto a garganta inflamada e muito mais teria para dizer, ou melhor, desabafar com todos.
Fica aqui esta resanha, sugestões e desafios, mas não termino sem antes soltar a palavra devida a TODOS desde 11 de Fevereiro:
Muito Obrigado!
José Maria Montenegro
PS. A propósito de Cavaco Silva limito-me a recordar as sábias palavras do Frei Luís de Granada “menos perigoso é o inimigo público do que o traidor secreto, e menos dano faz o lobo na figura de lobo do que com pele de ovelha”.
Como a maioria já saberá, foi hoje promulgada pelo Presidente da República a Lei do Aborto. Sem porquês, sem quaisquer condicionamentos, sejam de natureza jurídico-constitucional sejam de natureza político-social. Foi simplesmente promulgada.
Foi notório o meu (nosso) silêncio, enquanto membro da Comissão Executiva do Norte pela Vida, desde o dia 11 de Fevereiro. Para além da nossa declaração pública na sede, ao final da noite, dirigida a todos na voz do Luis Graça através da comunicação social, não mais demos notícias nem dirigimos uma qualquer palavra de reconhecimento, agradecimento, esperança ou desafio.
Sinceramente, no que me toca, foi assim porque tinha que ser. Sem prejuízo das diligências, já sem grande alcance, que fomos fazendo junto da Assembleia da República e da Presidência da República, mais por adesão aos esforços da extinta Plataforma do que por nossa iniciativa, a verdade é que mantivemos um prudente silêncio (se me permitem a adjectivação). Na realidade, adivinhava-se este dia com os exactos contornos que veio a ter.
O Aborto é mesmo livre, totalmente livre.
Bem, mas é neste dia e nesta hora que se exige uma palavra.
Recordo-me bem daquela fria noite de finais de Novembro, em que alguns de nós se reuniram na Rua Aires Gouveia, em frente ao Hospital de Santo António. Estávamos ali correspondendo a um apelo difundido via e-mail. E já aí começámos por não ser poucos – éramos mais de 50 vozes, cada um com a sua sensibilidade e disponibilidade.
A ordem de trabalhos não estava definida, ou melhor, era a de sempre – a luta pela VIDA!
Se bem se lembram, ainda não estava marcada a data do referendo.
A reunião não foi mais do que dela esperávamos: havia que criar um movimento de cidadãos, que tendencialmente representaria o Norte do país na campanha que se avizinhava; esperava-se que um pequeno grupo de voluntários (auto-designado “comissão executiva”) tratasse de iniciar os “pequenos” detalhes indispensáveis à “empreitada”.
E assim começou todo um trabalho pela Vida em que quase tudo estava por definir: a mensagem, a declaração de princípios, o nome do movimento, o logótipo, os mandatários, o orçamento. E mais: as assinaturas e organização da recolha, a corrida de São Silvestre, a sessão de apresentação, a sede, as iniciativas, deslocações, debates, entrevistas, reacções, assessoria de imprensa, imagem, panfletos, outdoors, material de campanha como bandeiras, t-shirts, gorros, pulseiras, autocolantes, pins, etc, o financiamento (com imensas e delicadas diligências), a formalização do movimento, os contactos com outros movimentos e com figuras públicas que nos pudessem ajudar. Fizeram-se arruadas, caminhadas, passeios de barco, de bicicleta, de autocarro. Jogos de futebol com grandes estrelas. De nós nasceu o mais fantástico movimento de médicos. Estivemos em todos os concelhos do distrito do Porto, e fomos mais longe sempre que nos pediram.
Caros Amigos, nós não falhámos! O Norte pela Vida não falhou!
Perguntarão: mas porquê exaltar todo este trabalho – o nosso trabalho – em defesa da VIDA?
Como sublinhámos na declaração da noite de 11 de Fevereiro, pela voz do Luís, este nosso empenho, trabalho e dedicação, não resulta de um qualquer programa político-partidário. É antes a decorrência lógica e coerente da nossa maneira de ser e de pensar. E é aqui que nós somos diferentes!
O dia 11 de Fevereiro, e agora o dia 10 de Abril, não são o termo do nosso empenho, trabalho e dedicação. Pelo contrário, é agora que temos que demonstrar a nossa coerência e diferença. A VIDA assim o exige, e nós não deixaremos de corresponder.
É assim que peço a todos que se dediquem, de acordo com a disponibilidade e as circunstâncias de cada um, à causa da VIDA.
Como, perguntarão.
Não sei mas tenho sugestões a fazer:
A primeira, como condição sine qua non, é a de que nos esforcemos verdadeira e consequentemente, com a sustentabilidade financeira das associações já existentes (aqui no Porto, o Vida Norte e as Mulheres em Acção, e em Famalicão, o Tudo pela Vida). Não podemos viver tranquilos com a agonia financeira destas associações que são o instrumento essencial para a institucionalização da defesa da VIDA. Recorram a todos os contactos que tiverem e não se conformem!
A segunda sugestão passa necessariamente pelo voluntariado junto dessas instituições. Quantas vezes damos por nós a dedicarmo-nos a causas tão menos importantes? A causa da VIDA, mais do que nunca, precisa de todos!
A terceira, mais complexa, prende-se com a necessidade de fomentarmos no nosso convívio social, profissional, familiar, uma cultura de exigência e de fundamento relativamente às questões essenciais da VIDA. Provavelmente, uma das principais causas do insucesso de 11 de Fevereiro terá residido na nossa demissão em formarmos consciências contrastada com a atitude militante dos nossos adversários.
Tenho mais ideias – todos teremos. Permitam que me fique por estas três.
Como terão percebido, sinto a garganta inflamada e muito mais teria para dizer, ou melhor, desabafar com todos.
Fica aqui esta resanha, sugestões e desafios, mas não termino sem antes soltar a palavra devida a TODOS desde 11 de Fevereiro:
Muito Obrigado!
José Maria Montenegro
PS. A propósito de Cavaco Silva limito-me a recordar as sábias palavras do Frei Luís de Granada “menos perigoso é o inimigo público do que o traidor secreto, e menos dano faz o lobo na figura de lobo do que com pele de ovelha”.